Partes dos corpos foram encontradas em estrada de Lomba Grande nos dias 4 e 18 de setembro
O desafio da investigação aumenta na medida em que as cabeças são as únicas partes que não apareceram. “Elas permitiriam a reconstrução dos rostos, por meio dos recursos tecnológicos de que dispomos”, observa o delegado de Homicídios de Novo Hamburgo, Rogério Baggio Berbicz. Quando foram encontrados mais pedaços das crianças, no dia 18, a 400 metros do primeiro ponto, o delegado requisitou um cão farejador dos Bombeiros para varredura na área, na esperança de chegar às cabeças. A conclusão é que, propositalmente, elas foram ocultadas pelos assassinos. “Queremos muito descobrir quem são as crianças e quem fez essa barbaridade.”
Ficou um ambiente de medo na Lomba Grande. “Isso é coisa de filme de terror. É difícil acreditar que aconteceu aqui perto”, comenta uma moradora de 38 anos que pede para não ser identificada. Para o delegado, o lugar foi usado apenas como ponto de desova. “Temos muito a apurar, inclusive onde os homicídios ocorreram.”
Laudo da necropsia sai em 10 dias
Outra dúvida é se os restos mortais foram deixados no mesmo dia, já que a localização se deu no intervalo de duas semanas. “Um dos quesitos que fizemos à perícia é se foi tudo largado no mesmo momento, que é o que acreditamos, ou se partes foram conservadas para depois.” A resposta virá com o laudo da necropsia, que também apontará peso e altura aproximados das vítimas, entre outras características. Segundo o chefe de Gabinete do Instituto-Geral de Perícias, João Cardona, o laudo deve ser concluído em dez dias.
Vídeo mostra trabalho da Polícia no dia 18 de setembro, quando foram encontradas mais partes das crianças
Babalorixá condena sacrifício humano
A Polícia recebeu informações de que a barbárie teria sido praticada em terreiro de quimbanda, no Vale do Sinos, e apura as denúncias, que são anônimas. A reportagem do Jornal NH recebeu telefonemas, também sem identificação, que apontam para a mesma direção. Lideranças de religiões de matriz africana rechaçam a hipótese. “Não existe essa história de magia negra na umbanda, quimbanda e nação. Não existe essa história de assassinar crianças. Se alguém faz isso, não é religião de matriz africana. Fico em choque só de pensar nisso. Nós cultivamos a vida”, salienta o babalorixá Marcello D´Ògun Oniré, de São Leopoldo.
Ele observa que existem bons e maus líderes em todas as religiões. “Na nossa crença, são sacralizados apenas animais de corte, que servem para o consumo, como bode, galo e galinha.” Segundo o babalorixá, magia negra envolve práticas satanistas. “Já conversei com satanistas, que também abominam uso de humanos. Quem esquartejou as crianças é um doente mental que usa isso para botar a maldade para fora.”
Crime passional e briga de facções são linhas remotas
A possibilidade de vingança por motivação passional é ainda apurada, mas considerada remota, assim como a linha de investigação sobre guerra entre facções.
Na primeira hipótese, se um padrasto matasse os enteados em represália contra a companheira, por exemplo, a mãe das vítimas procuraria a Polícia. “A não ser que a mãe também tenha sido vitimada e o corpo não encontrado ainda”, observa o delegado.
No caso de quadrilhas, o crime organizado costuma obedecer um “código de ética” que pune com rigor violência contra crianças. Por isso, seria improvável que uma facção cometesse brutalidade com um menino e uma menina para atingir algum grupo rival.
O delegado admite que ritual religioso é a linha mais plausível, mas acrescenta que nenhuma hipótese está descartada na investigação.
Como você pode ajudar
A Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo disponibiliza um telefone exclusivo para informações sobre o caso:
* WhatsApp (51) 98416-8902
* Também recebe denúncias no e-mail novohamburgo-dhpp@pc.rs.gov.br
Os contatos podem ser anônimos e o sigilo é garantido.