Levantamento do Ibope ainda mostrou que dois a cada três brasileiros já acordam indispostos e cansado
O estresse e a correria do cotidiano formam o topo das principais causas para a fadiga. Em seguida, aparecem a falta de condicionamento físico, problemas pessoais, alimentação desequilibrada, acomodação, preguiça sem motivo, problemas no trabalho e, por último, questões de saúde.
Cláudio da Rocha, professor
Ao deitar para dormir, é importante tentar acalmar a mente. Se seus pensamentos estão tumultuados, agitados, o corpo estará da mesma forma”, destaca o professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Feevale, Cláudio Felipe Kolling da Rocha.
Apoio médico
Para o profissional, é preciso diferenciar o cansaço de um problema de saúde mais grave, como a depressão ou a Síndrome de Burnout, esta última conhecida também por
Síndrome do Esgotamento Profissional. Tem como principal característica a tensão emocional crônica provocada por condições físicas, emocionais ou psicológicas desgastantes no trabalho.
Jovens estão no grupo que informou sentir mais cansaço: entre os entrevistados com idades entre 20 e 29 anos, 99% disseram que estão exaustos
“O cansaço físico é aquele que temos após um exercício extenuante ou dia longo de atividades físicas. O cansaço mental é aquela sensação de estafa quando usamos muito nossos recursos cognitivos para resolver problemas, ficando dispersos e com dificuldade de resolver coisas simples. No entanto, o estilo de vida moderno tem intensificado o aparecimento de diversas condições associadas a sofrimento psicológico, como depressão, ansiedade, Síndrome de Burnout, Síndrome da Fadiga Crônica, outros.
A presença frequente de falta de motivação, cansaço, dificuldade de interação social e falta de atenção podem ser indicativos de algo não está bem. Nesse caso, devemos procurar um profissional qualificado para diagnóstico e tratamento.”
Atividade física ajuda a descansar
Fazer exercícios é uma dica para quem quer usufruir de um sono reparador, entre outras vantagens. “Nosso organismo responde muito bem à atividade física, liberando mediadores químicos que facilitam o posterior repouso, como as endorfinas, que têm um efeito benéfico na redução do estresse e da ansiedade. O
exercício também atua sobre a regulação metabólica, reduzindo níveis de glicose no sangue e, consequentemente, níveis de insulina (hormônio que permite a entrada de glicose para alimentar as células). Níveis altos de insulina reduzem os níveis do hormônio do crescimento, o GH. Liberado em maior quantidade durante o sono, o GH tem efeito reparador sobre os tecidos e o metabolismo”, destaca.
Como, então, relaxar de verdade?
Mais do que fórmulas milagrosas, os passos para ajustar a rotina na tentativa de otimizar o esforço e se cansar menos começam com pequenas atitudes. A primeira delas está no contato com os eletrônicos antes de dormir.
“É importante reduzir a exposição a fonte luminosas como celular, televisão e computador durante a noite. Reduzir um pouco a iluminação ambiente e ler um livro é uma ótima forma de chamar o sono”, cita.
Outro ponto é o cuidado com a alimentação. “Alimentos estimulantes como café e guaraná têm a capacidade de aumentar a disposição por algum tempo. Comidas mais leves, com menos proteína e menos gordura, são digeridas mais rapidamente e causam menos sono pósprandial [após a refeição]. A longo prazo, a alimentação saudável, com frutas, verduras e legumes, garante um aporte adequado de vitaminas, sais minerais e fibras, melhorando o funcionamento do corpo. A redução dos níveis de colesterolerol e triglicerídeos melhora o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos, reduzindo a sensação de fadiga”, considera.
A terceira dica é tirar momentos para cuidar de si. Meditar, na acepção ampla do termo, tem um efeito importante no combate ao estresse, ansiedade e fadiga. “A mente e o corpo não podem ser separados. Existe uma íntima relação entre os estados mentais e os estados físicos. A produção dos hormônios cortisol e adrenalina está diretamente ligada ao estado emocional.”
60% dos acidentes de trânsito estão ligados ao sono e à fadiga
Parece com o efeito do álcool no organismo. O cansaço excessivo e o sono geram uma sensação de “embriaguez”, diminuindo as funções cognitivas, ou seja, a atenção, raciocínio e agilidade mental; motoras, o que permite que o condutor reaja imediatamente; e sensoriais, entre elas a visão e a audição.
Segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, no País, motoristas que dirigem com sono são responsáveis por 42% dos acidentes de trânsito nas estradas.
Outros 18% dos acidentes são provocados pela fadiga resultante da rotina dos condutores. Na soma, 60% dos acidentes de trânsito no País podem ter ligação com o sono e o cansaço, conforme a pesquisa.
Dormir mal engorda
Este desajuste no organismo que normalmente chamamos de cansaço é um termo abrangente para um estado mental e/ou físico de fadiga e ocorre quando há um excesso de uso de alguma função fisiológica. Quando este limite começa a ser forçado, o corpo manda um aviso de que precisamos de repouso.
“Nosso organismo está muito bem preparado para lidar com eventos estressores agudos, como um susto, privação curta de alimento e medo transitório, mas não para os duradouros. Quando o estressor se torna crônico, característico dos dias de hoje, uma série de efeitos podem ser vistos em nossa fisiologia. Produzimos hormônios, como o cortisol e a adrenalina, na tentativa de superar o evento estressor. Como ele nunca vai embora, estamos com esses hormônios cronicamente elevados, em especial o cortisol, o hormônio da vigília, o que nos deixa acordados”, ressalta.
O cortisol é essencial para o nosso organismo. “Seus níveis variam e o pico da secreção ocorre ao despertarmos, decrescendo ao longo do dia. Esse hormônio tem importante papel sobre o metabolismo. Quando cronicamente elevado, reduz a massa muscular e aumenta o tecido adiposo”, conta. Em outras palavras: não dormir bem, engorda.
Cansaço tecnológico
Ora um canal repleto de oportunidades que pode facilitar as tarefas diárias ali na palma da mão, ora mais um meio para nos prender a atenção e trazer ainda mais cansaço. Quando a tecnologia começa a ocupar um espaço excessivo na rotina, ao contrário de otimizar atividades, se torna mais um motivo de estresse, fadiga e ansiedade.
“A necessidade de estrar sempre acompanhado todos os acontecimentos no mundo digital pode ser arrebatador e, consequentemente, frustrante. Outro ponto importante neste uso é a alteração dos ciclos claro-escuro, os quais regem nossos relógios biológicos. A luminosidade funciona como dica para a sincronização dos relógios que determinam os ciclos fisiológicos. Quando estendemos o tempo de exposição luminosa, estamos reprogramando nosso cérebro para pensar que os dias são mais longos”, lembra o professor.