Deise Moura tem 39 anos e morou boa parte da sua vida no bairro Liberdade, em Novo Hamburgo. Desde criança, ela sonhava em costurar, mas sempre teve dificuldades, já que não tinha ninguém para ensiná-la por conta da pouca idade. Há alguns anos, Deise finalmente aprendeu a lidar com os fios e agulhas nas fábricas de calçado onde trabalhou. Mas ela não queria costurar couro ou sintético. Aquilo era limitado para as projeções da artesã. Ela queria criar roupas, ir além das bainhas e pequenos reparos que o conhecimento adquirido no setor calçadista lhe permitia oferecer.
Desenvolvido através da parceria entre Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SDS) e a Universidade Feevale, por meio da Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão e o Curso de Moda, e o projeto Alinhavando Oportunidades, as aulas ocorreram no Câmpus 2 da instituição de ensino com alunas encaminhas pela Fábrica da Cidadania, onde ocorreu a formatura da primeira turma.
Conforme o titular da SDS, Eliton Ávila, a iniciativa foi movimentada pelo "acreditar" nas pessoas e em suas potencialidades. E ao mesmo tempo, nos sonhos e na esperança de uma vida melhor. "Acreditar nas pessoas é a chave para a transformação social. Muitas vezes a falta de qualificação fecha portas de oportunidade de trabalho, é isso que não queremos", pontuou Ávila.
'Hoje alunas, mas quem sabe um dia sócias?', a possibilidade fez os olhos das amigas Anita Cardoso, 67, e Rosania Chaves, 53, brilharem. Com um sorriso no rosto a pensionista Anita, que nunca havia "pilotado" uma máquina de costura, desbravou o universo dos tecidos depois do incentivo de uma amizade de quase 20 anos.
"Ela me falou que eu tinha que vir, que seria bom, e não é que foi mesmo?", indagou. Assim como suas colegas, agora costureiras, Anita sonha em se tornar uma profissional, para também ensinar técnicas de costura no futuro. "A gente tem que crescer. Você não tem que ter o dom só para você, tem que dividir com outras pessoas. Agora eu costuro, gosto do que eu faço", contou.
Com conhecimento adquirido ao longo dos anos, repassado de geração em geração, a comerciante Rosania também não descarta a possibilidade. Hoje ela tem um ateliê, em que faz e reforma roupas de seus clientes e para familiares. Agora, ela descobriu o que é querer sempre mais.
A união entre linhas e agulhas que formam uma peça também podem costurar os sonhos da capacitação profissional para quem tem sofrido com o desemprego em Novo Hamburgo. Conforme a coordenadora do Núcleo de Extensão Universitária da Universidade Feevale, Luciane Iwanczuk Steigleder, o principal enfoque da iniciativa é na profissionalização e garantia de autonomia e geração de renda para mulheres. "Com o conhecimento adquirido durante o curso abrimos a possibilidade de gerar renda para as integrantes sem precisar sair de casa para trabalhar".
Segundo Luciane, o curso busca ensinar a prática e manejo da costura com métodos que as participantes possam assimilar com mais facilidade e prepará-las para o mercado de trabalho. Ela explicou que os resultados já estão aparecendo entre as alunas. "Muitas já afirmaram que não irão parar por aqui. Que vão em busca de novos cursos para se capacitar ainda mais, isso que nos motiva", completou.