Alerta vermelho: entenda como a atividade humana tem mudado o clima no planta Terra
Falta de controle torna frequente os eventos climáticos extremos
Se antes era uma sensação de que o clima tinha mudado, agora é uma certeza. E o mais preocupante: a mudança está mexendo com a dinâmica do planeta e o alerta vermelho foi ligado. Não faltam exemplos da loucura do clima. Nesta semana, a Itália registrou 48,8 graus. No Canadá, os termômetros chegaram a 48 graus recentemente. A China ficou abaixo d'água, com grandes cheias e vidas perdidas. Na Alemanha, enxurradas destruíram cidades. No Sul do Brasil, uma nevasca histórica. No Polo Norte, ursos morrem de fome devido ao degelo.
Pandemia antecipa sonho de viver no interior e na praia
Privatização dos Correios avança a contragosto de sindicatos
Manutenção na BR-116 na próxima semana pode causar lentidão ao trânsito
Consequências
Todos os cenários futuros apresentados apontam que o Brasil se tornará uma região mais seca, em especial na área central e na Amazônia, com aumento entre 2 e 4 graus na temperatura, o que muda a umidade do solo e tem graves consequências na agricultura.
O relatório do IPCC é categórico ao afirmar que limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius pode ser impossível, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa. Qual a consequência disso? A terra ficará cada vez mais quente e com isso o seu equilíbrio afetado, o que na prática representa mais eventos climáticos extremos, como grandes chuvas, tornados e secas prolongadas.
Em resumo, a estiagem que o País presencia hoje na região centro-oeste, geradora da crise hídrica que reflete no aumento na conta de luz de todos os brasileiros, vai acontecer de maneira mais seguida. A responsabilidade pelas alterações que diariamente impactam com mais força a vida das pessoas é da própria humanidade. Desde a segunda metade do século 19, com o advento da Revolução Industrial, a temperatura média do planeta aumentou em 1,1 grau Celsius.
O mundo está fervendo
Artaxo pontua que o IPCC traçou cinco cenários sobre o clima, a partir da diminuição de gases na atmosfera. No pior cenário (SSP5), que prevê nenhum tipo de ação global, em 30 anos a temperatura média do planeta crescerá 2 graus Celsius. "Para o Brasil pode aumentar de 2 a 2,5 graus. Se a média mundial subir 4 graus, o Brasil pode aumentar de 5 a 5,5 graus", diz o cientista, analisando o panorama até o final do século.
Isso significa que no verão, por exemplo, a temperatura média de Campo Bom, uma das cidades mais quentes do Vale dos Sinos, seria superior a 40 graus.
Há mudanças climáticas que já são irreversíveis. No entanto, algumas alterações podem ser retardadas e outras podem ser interrompidas se foram limitadas as emissões de gases. "É um recado para os tomadores de decisão, para implantarem políticas públicas de redução", alerta. Desde 1850, a humanidade já emitiu 2.390 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2). A cada ano, estima-se que o volume na atmosfera seja de 40 bilhões de toneladas métricas.
Impacto de meio grau
Conforme o IPCC, a temperatura subiu 0,5 graus Celsius a mais sobre os continentes. Ou seja, onde há estrutura socioeconômica (atividade humana), a elevação é de 1,6 grau, acima do 1,1 grau calculado como média global. Segundo Artaxo, isso ocorre porque a poluição urbana mascara as alterações que já acontecem.
Os cientistas são unânimes em afirmar que as contribuições naturais, aquelas que são promovidas pela própria natureza sem interferência do homem, não são relevantes neste quadro alarmante.
O climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Lincoln Alves, que também representou o Brasil no relatório do IPCC, destaca que o documento apresenta um atlas e capítulos sobre mudanças regionais. "A inundação na Amazônia e seca no Rio Grande do Sul são elementos que confirmam a mudança climática", comentou no webnário da Fapesp.
De acordo com ele, cada meio grau de elevação na temperatura provoca aumentos perceptíveis de precipitação e secas em várias regiões.
Alves chama atenção que o relatório do IPCC mostra um aumento na probabilidade de eventos simultâneos com maior aquecimento global. Em particular, ondas de calor e episódios de secas, sentidas ao mesmo tempo, tendem a se tornar mais frequentes. Extremos simultâneos em vários locais também se tornarão comuns, incluindo áreas de produção agrícola.
Fique por dentro
O IPCC revisou mais de 14 mil trabalhos científicos produzidos no mundo sobre o clima. O relatório, que é assinado por cientistas das 196 nações que integram a ONU, tem quase 3 mil páginas. O IPCC tem apenas 12 funcionários remuneradas. A maioria das contribuições é feita de maneira voluntária, o que na avaliação dos cientistas, dá uma credibilidade ainda maior aos dados apresentados. Mais dois relatórios são esperados para 2022, um para fevereiro e outro para março, com foco na mitigação e na influência humana sobre o aquecimento.
Mudanças no clima gaúcho
Os pesquisadores do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já identificaram um aumento de 10% na quantidade de chuva nas últimas três décadas em comparação com as anteriores. Mesmo assim, esses últimos 30 anos têm sido marcadas por longos períodos de déficit hídrico, como o período atual do último um ano e meio.
Segundo os pesquisadores, essa aparente contradição, de mais chuvas e secas, tem explicação. O Estado é local de grandes tempestades da América do Sul, que tendem a acumular mais água e tornarem-se mais fortes a partir do aquecimento da atmosfera, justamente o que aponta o IPCC.
O Centro Polar e Climático também analisa a ocorrência de ciclones extratropicais, observando os mais intensos, chamados de explosivos ou bomba. As projeções estimam crescimento de aproximadamente 6% na frequência, além de um aumento de sua intensidade.
Sem volta
Já existem mudanças irreversíveis causadas pela alteração no clima do planeta. Entre 5% e 7% do gelo da Groenlândia derreteu e não há como recongelar essa água, o que impacta diretamente no nível dos oceanos e torna vulneráveis as populações litorâneas. Além disso, há perda da biodiversidade e há espécies que não conseguem se adaptar ao novo clima, sendo fadadas à extinção.
É hora dos políticos agirem
A cientista do Inpe e vice-presidente do IPCC, Thelma Krug, atua no painel desde 2002. De acordo com ela, o relatório não faz nenhuma avaliação política sobre a situação do clima. “Mas traz informação científica relevante que permita a eles (governantes) terem uma decisão informada no fórum político da ONU”, salienta.
Na sua avaliação, o relatório é “bastante incisivo” e com uma linguagem clara, um sumário para decisões políticas voltadas ao clima. Segundo Thelma, por algum tempo se ficou na dúvida se os eventos climáticos extremos realmente estão acontecendo por influência humana. “Mas esse relatório é muito claro em relação a isso, principalmente para a questão da temperatura”, é contundente. “Isso pode trazer um novo pensamento nas negociações”, acredita.
Para a cientista, que também marcou presença no webnário da Fapesp, as mensagens do relatório do IPCC vão trazer um novo cenário de preocupação aos governantes. “Nós precisamos de uma redução ambiciosa e rápida”, diz, fazendo referência à temperatura.
Acordo de Paris
O Acordo de Paris é o tratado mundial mais recente voltado para a redução do aquecimento global. Ele foi discutido entre 195 países durante a COP21, em Paris. O acordo entrou em vigor em 2020, substituindo o Protocolo de Kyoto. Entre suas metas, estão manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius, investir em modelos de energia que saiam da matriz fóssil garantir e de ajuda a países em desenvolvimento para implantar essas ações em prol do meio ambiente.
Os Estados Unidos havia se retirado do acordo, o que foi modificado com a eleição de Joe Binden, que assinou novamente o protocolo em janeiro deste ano. O Brasil integra o acordo, mas é criticado quanto ao cumprimentos de metas, em especial sobre os índices de desmatamento. Com emissão líquida do País é de cerca de 1,6 bilhão de toneladas de gases, é o sexto maior emissor de gases do mundo.