A Polícia Civil descartou, na tarde desta quarta-feira (12), relação do carro incendiado em área rural de Imbituba, no litoral catarinense, com o desaparecimento da cabeleireira de Estância Velha Lourdes Clenir de Oliveira Melo, 48 anos. Ficou em intrigantes coincidências vinculadas ao ex-companheiro dela, o caminhoneiro Léu Vieira de Moura, 55, suspeito de ter matado e escondido o corpo. Ele também está sumido. E o mistério continua.
Outra vítima
O intervalo superior a 13 horas seria mais que suficiente para buscar refúgio com familiares em Santa Catarina e eliminar provas. Mas, nesta quarta, a Polícia revelou que o Corsa carbonizado tem ligação com outra mulher desaparecida. Apesar da placa, essa outra vítima não é de Estância. E é um sedã cinza, enquanto o Corsa da cabeleireira é um hatch preto. Também foi checado se Léu ou algum conhecido tinham carro parecido com o queimado. A resposta foi negativa. “Que a gente saiba ele tem só uma moto, que usou para ir à casa dela na segunda”, conta um parente de Lourdes.
Delegado faz alerta e intensifica caçada
Desde o registro de ocorrência feito por uma sobrinha, às 17h17 de segunda, policiais civis de Estância tentam localizar o paradeiro da vítima e do suspeito. O delegado da cidade, Rafael Sauthier, prefere não entrar em detalhes da investigação, mas revela que está intensificando as buscas. “Estamos alertando núcleos de inteligência de outras instituições sobre possíveis rotas de fuga, com dados das partes e do veículo.” Apesar de não haver corpo, o caso é tratado como feminicídio.
Nova vida com dois empregos e igreja
Natural de Santa Rosa, no norte do Estado, Lourdes tem casa há mais de dez anos em Estância Velha, onde tem emprego em creche perto de casa, como faxineira, e fez dois cursos de cabeleireira. Com cortes e serviços de manicure a domicílio, a clientela não parava de crescer, enquanto projetava o sonho de abrir salão de beleza junto à residência.
Era tida como exemplo de redenção após duas condenações por tráfico de drogas, em Ivoti em 2010 e em Estância em 2011, conforme apurado pela reportagem. “Ela sofreu muito na cadeia. Tinha deixado essa vida para trás. Cumpriu as penas e passou a trabalhar bastante, além de se dedicar à igreja”, conta o sobrinho Lucas. É mãe de duas mulheres e um homem, na faixa dos 20 aos 30 anos, de um relacionamento do passado, que moram em Santa Catarina.
Lourdes implorava ajuda contra o ex
A cabeleireira também não queria mais saber do caminhoneiro, que saiu da prisão há um ano e passou a incomodá-la. “Ela implorava ajuda, reclamava das ameaças e denunciava agressões. Parecia uma questão de tempo isso que aconteceu agora”, conta um conhecido. No dia 19 do mês passado, Léu foi preso por invadir a casa, agredir a moradora e até roubar objetos, mas a juíza de Ivoti, Larissa de Moraes de Morais, que responde por Estância, não homologou a prisão em flagrante e deu liberdade a Léu. A Medida Protetiva de Urgência (MPU) concedida à vítima não surtiu efeito, pois foi burlada várias vezes. Com medo, Lourdes parou de denunciar. A reportagem entrou com o Tribunal de Justiça, a fim de ouvir a magistrada, e não obteve retorno.
Léu foi condenado por tráfico internacional
Sem dizer o nome do investigado, por conta da Lei de Abuso de Autoridade, o delegado diz que ele tem antecedentes criminais no Estado por roubo a pedestre, roubo de veículo, roubo a comércio, porte de arma, ameaça, estupro, receptação, furto, desacato e desobediência, entre outros. A reportagem apurou nesta quarta-feira que Léu, nascido em Realeza, no Paraná, também tem condenação por tráfico internacional de entorpecentes, em rota que passava por Foz do Iguaçu. Como caminhoneiro, era o responsável pelo transporte, conforme decisão da Justiça Federal. Entre idas e vindas na cadeia, passou por todos os regimes (fechado, semiaberto e aberto) e usou tornozeleira eletrônica.