O adolescente que morreu após a explosão do pneu de um caminhão em uma borracharia, no limite entre os municípios de Taquara e Parobé, trabalhava no local para ajudar com as despesas da família. Douglas Ruan Duarte Fraga, de 15 anos, estudava pela manhã no oitavo ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jorge Fleck e no período da tarde auxiliava na oficina que fica em frente ao educandário, na Estrada da Integração.
A família humilde é formada por sete irmãos, dos quais quatro ainda moram com a mãe. O pai é falecido. Todos os irmãos estudaram na mesma escola. Os mais velhos trabalham em pedreira. Na localidade do Morro da Pedra, onde aconteceu o caso, é comum os jovens trabalharem desde cedo. Sem muita opção de emprego, quase todos acabam tirando o sustento de alguma das pedreiras próximas.
A explosão foi ouvida por diversas pessoas. “Foi bem mais alto que o barulho de um tiro”, conta uma testemunha. O pneu foi projetado para o alto, quebrou as telhas e subiu mais alguns metros. Não há sinal de telefonia na localidade. Para chamar a ambulância, um funcionário da escola fez contato por WhatsApp com uma de suas tias, que trabalha no posto de saúde próximo. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou cerca de meia hora após a explosão, segundo os relatos.
A Polícia Civil investiga o caso. De acordo com o delegado Gustavo Bermudes, da Delegacia de Polícia (DP) de Parobé, trata-se de um acidente de trabalho. O Instituto Geral de Perícias esteve no local no dia da explosão.
O estudante Gabriel Maus, de 16 anos, era amigo de Douglas desde a infância. Os dois cresceram juntos. “Era uma pessoa alegre, todo mundo gostava dele. Tanto que já tem mais de cem pessoas fazendo homenagens a ele no Instagram. Era um cara bem educado com todos”, define.
No celular, Gabriel reúne diversas fotos dos dois juntos em momentos de descontração, passeando pela localidade e andando a cavalo. Aos fins de semana, a diversão era ir à Lancheria do Pedrinho, que tem um campo de futebol. “Esse domingo mesmo a gente saiu da casa dele, fomos até lá, brincando um com o outro. Era uma amizade bem forte. A gente conversava no WhatsApp todo dia de noite. Era um guri bom, só ficam boas lembranças”, finaliza o amigo.
A diretora da EMEF Jorge Fleck, Eliana Márcia Dias, descreve Douglas como um jovem muito querido e tranquilo. Era considerado um brincalhão pelos colegas de classe. De acordo com ela, o jovem sempre passava na cozinha antes da aula, que fica logo na entrada. Batia na porta e perguntava para a cozinheira qual era o cardápio do dia e se tinha chá. Em seguida, Douglas se direcionava para a sala de aula, quase ao lado da cozinha. "Estudou na escola desde o 'prezinho', foi nosso aluno desde sempre. Era um guri bem trabalhador, sempre disposto a ajudar todo mundo", lembra a diretora.
O colégio tem 290 alunos de todos os anos do Ensino Fundamental, sendo a maior parte pessoas que moram no entorno. Na localidade, quase todos se conhecem. Por isso, a morte de Douglas causou grande comoção entre os moradores. Eliana conta que recebeu diversas ligações de pais de alunos prestando solidariedade. “É uma comunidade muito acolhedora. Ele nasceu e se criou aqui. Todo mundo se conhece, então, está todo mundo abalado", relata.
A Prefeitura de Parobé e a EMEF publicaram notas de pesar, e as aulas de quarta-feira (22) foram canceladas para acolher os familiares de Douglas. O enterro está marcado para esta quinta-feira (23), às 9 horas, no Cemitério de Morro da Pedra.