O Vale do Sinos volta a ser foco de operação interestadual contra o golpe dos nudes. Na manhã desta quinta-feira (23), foi a vez da Polícia Civil de Goiás agir na região. Uma manicure de 39 anos, companheira de presidiário, foi capturada em casa, no bairro Vila Diehl, em Novo Hamburgo. Ela era o principal alvo dos agentes. Duas comparsas foram presas em São Leopoldo e dois em Taquara, no Vale do Paranhana. O grupo, com indícios de filiação à facção Os Manos, é acusado de extorquir R$ 480 mil de um fazendeiro goiano de 26 anos.
O delegado de Repressão a Crimes Cibernéticos de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, Caio Martines, revela o papel estratégico da hamburguense no esquema. “Ela é a dona da internet utilizada na criação do perfil criminoso que trocou nudes com a vítima. É casada com um rapaz que está preso por tráfico de drogas. Considerando que grande parte desses crimes são coordenados de dentro das cadeias, é grande a possibilidade de que o companheiro esteja envolvido.”
A manicure, que não tinha antecedentes criminais, estava com prisão temporária decretada pela comarca de Rio Verde (GO).
A operação goiana recebeu o nome de “Sem Fronteiras”, conforme Martines, porque a quadrilha do Vale do Sinos faz vítimas em todo o País. “Esse golpe é daí de Novo Hamburgo e São Leopoldo, mas a gente acredita que vai se espalhar entre criminosos de todo o País, pela interação entre presos e facções.”
Para deflagrar a ofensiva em solo gaúcho, Martines contou com o apoio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul e distritais das cidades, como a 1ª DP de Novo Hamburgo. A operação empregou 50 agentes.
Outros quatro investigados, apontados como laranjas da quadrilha, foram capturados no início da manhã de quinta-feira. São duas mulheres, de 65 e 25 anos, encontradas no bairro Duque de Caxias, em São Leopoldo, perto da Estação Unisinos do trensurb, e dois homens, de 51 e 28 anos, localizados no Centro de Taquara. “Cada um foi preso em sua casa. São os titulares das contas bancárias que receberam o dinheiro da vítima”, detalha o delegado.
Martines frisa que a Operação Sem Fronteiras ainda cumpriu mandados de busca em Igrejinha, Nova Santa Rita e presídios da Grande Porto Alegre, como Charqueadas e Montenegro. Celulares, computadores e documentos apreendidos serão analisados pela delegacia especializada de Goiás. “Ainda estamos com três mandados de prisão em aberto, de suspeitos não localizados.”
O fazendeiro goiano foge do padrão de vítima do golpe do nudes. É jovem e tem ensino superior, com estudos nos Estados Unidos. Para enganá-lo, os vigaristas gaúchos não encenaram somente a rotina do trabalho policial, possivelmente numa das duas falsas delegacias descobertas no fim de abril no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, pela 1ª DP da cidade. Simularam também o funeral da namorada virtual da vítima e ainda forjaram uma reportagem jornalística sobre o drama da família da menina.
Mas o tema central é o mesmo. Como em todos os casos da “sextorsão”, o fazendeiro foi seduzido nas redes sociais por uma jovem atraente, que ele acreditou ser real.
Depois que evoluiu para o “sexo virtual”, com troca de imagens íntimas, passou a ser extorquido por um criminoso que se passava pelo pai da menina e, mais adiante, por falsos policiais, que exigiam dinheiro para não prendê-lo por pedofilia. Também tem o lado dramático, como a comunicação do suicídio da garota por depressão. Pagou um total de R$ 480.400,00 à quadrilha, entre janeiro e março deste ano.
O delegado Edmar Caparroz, da Polícia Civil de São Paulo, revela que a operação desencadeada na manhã de terça-feira (21) no Vale do Sinos trouxe novos elementos à investigação. “No celular de uma presa na cidade de Parobé, há vídeos e imagens da extorsão. Mas fizemos apenas uma análise preliminar, pois aguardamos autorização judicial para perícia no aparelho.”
A principal descoberta, conforme revelado pelo Jornal NH, foi chegar à ex-mulher de um dos líderes da facção Os Manos, na casa dela, no bairro Canudos. “Foi usado o sinal de internet da residência dela nos crimes”, afirma Caparroz. A quadrilha extorquiu R$ 104 mil de um aposentado de 68 anos da cidade Presidente Venceslau, no oeste de São Paulo.